segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Dias Cinzentos

Desisti de beber
Desisti de fumar
Já cogitei desistir de viver
Tanto faz, eu já me matei aos poucos desde que você se foi.

Passaram-se anos desde que
Minha alma putrida ficou sozinha sem a luz do teu sorriso
Como estão meu fígado, rins, coração e cérebro?
Já sou uma carcaça que apenas existe,
A alma lá fora sente o peso do existencialismo e chora as flores com o teu perfume.

A brisa vaga do vento frio que chora
Com o cinzento céu acima da minha cabeça, caminho.
O tato frágil da veia do pescoço que pulsa com os passos sem vida,
Eu vivo.

Eu vivo na desesperança de se viver
Na incógnita de ser de novo
De ser um corpo com alma, amor, luz e calor.
Vivo na loucura do tempo que desestabiliza cada respirar de cada ser vivo ao meu redor
E que se estabiliza quando o mesmo tempo traz de novo a paz da resposta.

Vivo no doce querer de quem não me quer,
Na ternura do abraço de quem me quer bem, mas não sabe dos poréns,
Na quentura dos beijos que eu não dei.

Vivo melhor sob o dia nublado
O cinza contrasta com o verde dos meus olhos,
Posso finalmente olhar dentro de mim e então,
Entender as respostas que o tempo me deu e eu escondi.

sábado, 16 de setembro de 2017

Sobre minhas memórias, descobri o ser incrível que sou. Constantemente me pegava pensando sobre como eu queria apagar algumas memórias, como eu queria poder não lembrar tanto de certas memórias, como eu queria que certas memórias nunca tivessem sido feitas.

Às vezes a gente se esquece de lembrar. Só se esquece. Não apagou memória nenhuma, não quis deixar de lado, não quis que nunca existisse. Só esquece mesmo de lembrar. Mas para todo esquecimento, há um quase inexistente gatilho que te faz lembrar. E aí fodeu.

Nessas memórias em específico, existem muitos gatilhos. Eles são dezenas de músicas, dezenas de filmes, alguns aromas, alguns toques, algumas saudades, quase qualquer coisa pode me fazer lembrar dessas memórias.
Foi uma música em específico. Eu me lembrei. E então me dei conta de algo extremamente importante e que eu nunca havia notado até esse dia: nós podemos controlar como essas memórias vão nos afetar. 

As memórias invadem, elas inundam nossa cabeça com uma força sobrenatural. Você não pode escapar, elas estão lá e quando são lembradas, preenchem todo o cérebro, cada cantinho empoeirado, cada espaço vazio que você achava que tinha ocupado.

Eu me permiti lembrar. Eu me permiti sentir, mas eu não me permiti sofrer. Disse às minhas memórias que eu as amo, que amo como eu as construí, que amo quem as construiu comigo, que não ousaria mais sequer pensar em me desfazer das minhas memórias.

Sabe, existirão dias que você não vai querer suas memórias, que vai querer que elas sumam. Elas não vão sumir e você irá sofrer. Os dias passarão e você terá pensamentos mórbidos, desejará que esteja envolvido em um acidente e que tenha amnésia. Desejará que esqueça até o seu nome. Mas as memórias, elas continuam lá.

Eu fiz as pazes com as minhas memórias. Eu entendi o real significado delas estarem aqui, entendi o quanto são valiosas. Percebi que com o tempo, a imagem das memórias vai sumindo, vai ficando só um sentimento, uma coisa no seu corpo como um calafrio ou o estômago remexendo. Depois você descobre que elas estão lá, mas você não lembra. Só sabe que elas estão lá. Chame isso de saudade, ou do que quiser. Eu não sei do que chamar.

Elas estão aqui ainda e eu tenho o prazer de lembrar delas sempre que posso, sempre que quero, sempre que consigo. Quanto às suas memórias: não as perca!

domingo, 9 de abril de 2017

Quando eu tomo decisões sobre atitudes que podem me levar para longe dela, eu paro. Meu subconsciente me faz parar, eu sonho, eu posso ouvi-la implorar para que eu pare, como ela já fez antes. Eu paro e ela me diz, finalmente, que eu deveria ter parado antes.

Por muito tempo então, eu parei. Sem me dar conta que ela já estava longe para sempre, em cada parada, eu me afastei de mim. Antes eu não pude escolher, eu a afastei sem nem saber o porquê. Eu já me perdi dela e de mim mesmo há tempos. Eu escolhi, dessa vez por um motivo plausível e consciente, ir. Posso ver cada memória feliz que tive com ela, posso ver cada sorriso dela, posso sentir minhas pernas falharem e meu coração fraquejar, posso ver meu psicológico estraçalhar, mas eu não desejo parar. Eu desejo seguir e me reencontrar.

A culpa corrói cada canto da alma, só pode ser perdoado aquele que se perdoou. Eu não me perdoei por ter negligenciado amor a ela, não me perdoei por não ter estado ao lado dela e nem por ter destruído tudo de bom que criamos juntos e talvez tudo de bom que ela tinha. A vida é um fato engraçado, por estupidez eu deixei de dar tanto amor a ela, e veja como estou agora, com todo esse amor por ela que me transborda a alma e mata cada suspiro de resistência em mim.

Eu decidi que mereço continuar e não esquecer. Entendi que minha penitência seja amá-la, pelo resto de minha vida, através dos olhos de outra mulher.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Eu a culpo. A culpo por tudo de bom que aconteceu comigo. A culpo por ter me salvado de mim mesmo, por ter me encontrado, por ter me amado, por ter sorrido para mim, a culpo por ter sido minha.

De todas as pessoas, ela foi a única capaz de enxergar e aceitar quem eu realmente era. Por uns instantes que acabaram virando anos, eu fui capaz de conhecer um lado meu que eu jamais havia visto e eu a culpo por isso. Mas quem nós somos, volta, a escuridão sempre volta.

Eu costumava ser o tipo de monstro amador, não sabia muito da vida e das pessoas, nem dos amores, nem das bebidas, nem das boas músicas, nem dos bons livros, nem das boas piadas e muito menos do que eu estava fazendo da minha vida. Eu naturalmente evoluí. Evoluí tanto como bom espírito, quanto mau. Eu não a culpo por isso. Como poderia?

Hoje, o problema de me manter sóbrio por mais de uma semana, é que eu sinto a real falta que ela me faz. Ela não estar aqui, me faz sentir como se eu estivesse sozinho. Como se eu estivesse sozinho todo o tempo. Eu tenho realmente me preocupado, minha memória é falha e o tempo me envelhece, tenho lutado constantemente para não esquecer o rosto dela.

Disseram-me que tudo passa, e o que fica é a saudade. Não me disseram o que passa e o que deixa de passar, não me disseram que o tempo não ajuda se você não estiver disposto a se ajudar, eu não disse a ela que eu queria ficar.


terça-feira, 21 de março de 2017

Eu não quero morrer tendo amado só uma vez. Como dizia o mestre Raul, ninguém é feliz tendo amado uma vez.

Quero o calor de um coração encostando no outro através do abraço. Quero o doce da paz do beijo leve, transbordando de emoção. Quero me jogar na alma de alguém mais uma vez, povoar um mundo nunca antes povoado, quero plantar jardins de amor sem fim no coração daquela que primeiro meu caminho cruzar.

A necessidade carnal nem se compara. Corpos são fáceis de tocar. Quero que me toquem a alma, quero que arrombem meu peito e que façam meu coração de refém. Já tirei a verba da segurança do coração, qualquer um pode entrar e levar o pobrezinho consigo. Quero, desesperadamente que me tirem daqui, que me fujam comigo e que não me devolvam nunca mais.

Eu não quero viver tendo morrido de amor só uma vez. Apesar de ter a já velha concepção incrustada no peito de que amor é só um na vida, quero, com todas as minhas forças, matar esse amor que ainda vive aqui e que há tempos já deixou de ser bem vindo. Desejo morrer. Morrer de amores. De mil e um amores, se possível.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Lembrei-me


O tempo é implacável: passa sem dó.

Lembranças também são implacáveis: lembram a mente de coisas que há muito se foram, e mais: te levam do riso à dor em segundos, e vice-versa.
Então estava eu aqui, nesta tarde ensolarada com as janelas fechadas, músicas aleatórias tocando, a Noah roncando e tomando a maior parte da cama e, assim como o respirar automático, me lembrei de você.
Me lembrei dos beijos apaixonados e sorrisos sem fim nas chegadas e dos abraços apertados, beijos chorosos e promessas de que o tempo iria passar rápido, em cada despedida.
Me lembrei de tudo que me fazia ser loucamente apaixonado por você e que me faziam te amar incondicionalmente. Foi engraçado lembrar das minhas milhares de falhas nos seus dias de carência de tentar te explicar que não existiam motivos para te amar, que você era o motivo.
Me lembrei dos nossos românticos dias monótonos, única época da minha vida em que ficar deitado ao seu lado parecia 99% melhor do que qualquer coisa a se fazer.
Me lembrei que nem tudo é o que parece ser, éramos, constantemente, dois meteoros em rota de colisão, e quando colidíamos, destruíamos tudo ao nosso redor, e então, nos amávamos sem precedentes.
Me lembrei da paz que o seu amor me trazia e da aconchegante sensação de estar em seus braços.
Me lembrei... de te amar um pouquinho mais, mas depois, pelo meu próprio bem, esqueci.