domingo, 7 de janeiro de 2024

Se eu não mudar, eu perco

Um tempo atrás eu li a seguinte frase em algum lugar: "se eu não mudar, eu perco". Ao passo que essa frase se fundia com meus pensamentos, eu notei uma outra frase escrita num muro na rua onde passo todos os dias para ir à academia: "si você não muda nada muda" (pessoalmente sou muito fã de erros de grafia em protestos, causa um impacto e tanto).

Posso dizer que não consigo mensurar o quanto eu tenho perdido. Se puxo na memória, me lembro bem que em 2012 eu ganhei. Ganhei muito. Posso me considerar um campeão. Em 2013, creio que começaram os empates. Sabe como é, né? Acomodação do campeão. Em 2014 eu comecei a perder. São três mil  seiscentos e cinquenta e sete dias perdendo. No início eu não entendia. Não sabia que aquilo tudo era derrota. Mas eu estou sendo derrotado, sabendo disso ou não.

Quando me dei conta de que tudo que tenho feito nos últimos dez anos é ser derrotado, eu me peguei numa pergunta profunda e aterrorizante: o que eu tenho para perder mesmo? Eu evitei pensar sobre isso por um tempo. Sempre que me ocorria tentar entender minhas perdas, eu simplesmente não me permitia. Depois de um tempo fui absorvendo cada derrota dos últimos dez anos e posso dizer... não foi fácil.

Eu poderia listar todas as minhas perdas aqui. Algumas amizades, o amor da minha vida, oportunidades de mudar de vida, cidade ou país, dinheiro, objetos, animais, uma jaqueta que eu amava muito, a vontade de viver e por aí vai. Uma infinidade de coisas.

Por que eu me perdi? Essa é a pergunta principal. Eu entrei numa espiral sem fim onde eu não me achava mais. Eu me separei de tudo que me fazia ser eu mesmo. Posso olhar fotos ou ouvir pessoas me dizerem como eu era. Eu simplesmente não consigo me achar dentro de mim. Perdi muitas memórias de quem eu era. Todos somos mutáveis, mas eu não consigo achar minha essência. Eu tenho me guiado no caminho que eu acho que eu tomaria. É como se eu fosse um copiloto de mim mesmo esperando o meu piloto me encontrar. Ou será que eu sou o piloto fazendo a vez de copiloto?

Eu cansei de perder e estou pronto para sacrificar qualquer coisa que me impeça de voltar a ganhar. Se eu não mudar, nada muda. Se eu não mudar, eu perco.


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

O velório do que não foi

Eu queria poder te dizer que estou me entendendo. Queria poder te contar que estou me encontrando e que as coisas estão caminhando. Parece que estão caminhando bem. Eu queria poder te encontrar e te dizer mil coisas. Um milhão de coisas. Te contar de tudo que me doeu a alma. E de tudo que me fez sorrir.

Por algum motivo eu ainda não posso te encontrar. E por outro motivo, eu não irei te encontrar. Tem muito que eu gostaria de dizer. Eu tenho compartilhado mais as coisas comigo mesmo. E com um muito amigo que você ainda não conhece. E com o Thiago, claro. Eu queria poder dizer de tudo que aconteceu nesses anos enevoados. Queria tomar um geladíssimo chopp com meu grande amigo e um café gelado com meu grande amor. Mas não o farei. Por não poder, por não ser possível e por não ser necessário.

Isso de me entender, de caminhar comigo e de me chamar de volta me fez querer dizer muitas coisas. Ao meu grande amigo, ao meu grande amor... e até a mim mesmo.

Ao meu grande amigo eu gostaria de dizer que logo estarei a sua altura novamente. Poderei enfim te olhar nos olhos e dizer: que saudade, brow.

Ao meu grande amor eu gostaria de dizer que eu enfim parti. Parti com toda a ternura e delicadeza do amor que um dia dedicamos um ao outro - espero que os ventos soprem ao seus ouvidos as boas novas.

À minha ex terapeuta eu gostaria de dizer que eu me vi. E que levei um tempo pra conseguir processar tudo que enxerguei. Nem tudo era lixo dentro de mim. 

À mineira eu gostaria de me desculpar por ter sido escroto. Seu amor e seu cuidado comigo tocaram a máscara monstruosa que eu havia vestido. Naquela época, nem nos meus melhores sonhos eu me sentiria digno de você.

À nenê, desculpe por toda intensidade, descompasso e por ser um trapalhão. Eu estava aprendendo a medir as coisas ainda. 

À moça dos olhos gordinhos, não duvide do quanto eu te quis. É só
que é complicado querer alguém enquanto eu me chutava porta a fora. E continuo te querendo, o tesão que sinto por você é inexplicável. 

À rockeira que iniciou a conversa dizendo que me conhecia de algum lugar: você é foda! Espero que você alce voos cada vez maiores.

À metaleira: meu coração bateu tão forte que eu perdi o timing algumas vezes. Acontece hehe

E por fim, a mim mesmo. Obrigado por ficar mesmo quando eu te expulsei. Obrigado por ficar quando eu te neguei. Obrigado por ficar mesmo eu vestindo qualquer máscara que não me servia só pra não te enxergar. Obrigado por resistir e me empurrar em todas as vezes que eu desisti. Obrigado por voltar.  


sexta-feira, 10 de março de 2023

Eu te esperei. Te esperei das mais diversas formas. Esperei que você chegasse. Esperei que você ficasse. Esperei que você me quisesse. Esperei que você quisesse ficar. Esperei que você voltasse. Esperei pela sua mensagem. Esperei pra ouvir tua voz. Esperei te ver. Esperei te tocar.

Ao passo que eu esperava, eu me animava quando você estava. Nas poucas vezes que estava. E no pouco que estava, eu queria que estivesse mais. Queria te tatear mais. Como um livro novo que você começa a ler e fica imerso rapidamente, eu queria passar minhas mãos por você, sentir teu cheiro, te folhear. Te consumir mais rápido e mais profundamente. O quanto desse. O quanto nos bastasse.

Queria olhar no fundo dos seus olhos e te dizer algo. Algo que nem mesmo eu sei o que é. Você me causa euforia. Às vezes eu não sei o que dizer ou como agir. Não sei se deveria ser ofensivo ou te deixar ganhar campo. Só sei que te esperei. E te esperei...

Isso tudo ao mesmo tempo que é fácil, é difícil. É complicado. Não tem muita lógica. Não tem caminho. Estamos aqui e não estamos. Você não está. Depois não estou. E depois surgimos novamente, na promessa de não estarmos. No adeus que não é adeus. No fica só hoje. Mas não quero só hoje. Não assim. Sonhei com sua pele na minha. E com seu beijo gelado. E com seus dedos contornando minha sobrancelha, meu rosto, meus lábios. Com seus dedos se entrelaçando com os meus. E ficávamos. Mas era só sonho. Eu ficava. No fim só.


sábado, 25 de fevereiro de 2023

Interior

Eu sonhei que escrevia sobre uma garota. 

Era uma garota que eu não conheço. Não sei seu nome ou o seu rosto. Não sei como se veste ou o que gosta de ouvir. Eu também não me lembro exatamente o que escrevi. Entreguei o texto à uma professora que me deu um nove e me disse:

- Muito bem, Mikhail. 

Não posso dizer também se escrevi minhas percepções sobre a garota ou se ela havia me confidenciado algo.

Eu contei como ela se sentia sufocada nos últimos dias (tempos). Não se sentia sufocada pelos outros, mas por si mesma. Era mais como se seu próprio corpo a sufocasse. Sentia a garganta fechada, como se suas próprias mãos a estivessem enforcando. Mas não lhe faltava o ar, faltava força para expulsar algumas palavras. E gritar. Gritar a plenos pulmões. Gritar qualquer coisa, apenas para aliviar o peso de algum fardo.

Não me parece que ela carregava algo obscuro. Um segredo que pudesse acabar com sua vida (ou de alguém). Não. Acho que no fim se tratava de um acúmulo. O simples acúmulo de se viver. De se viver dia após dia na indiferença que a vida nos reserva. Um dia sem alguém perguntar como ela estava. Mais um outro dia sem sequer a olharem, seja como ser humano ou qualquer outra coisa. Já não se lembrava da última vez que a olharam com ternura. Se ela se lembrava do toque aveludado dos lábios de alguém que amara? Se esquecera da doçura do amor há tempos. Ou do leve enjoo que as borboletas apaixonadas lhe causavam.

Mas se lembrava diariamente das mãos em sua garganta e de seu espírito alvoroçado, que se debatia constantemente na esperança de criar um oportunidade em que pudesse finalmente gritar. Talvez esse ciclo infinito de dias inteiros sufocada a tenha feito ser mais reativa. Sempre alerta aos sinais e cansada demais para libertar sua fala.  

Em alguns dias sente como se o mundo desmoronasse sob sua cabeça, tal qual uma tragédia vinda das águas de março que fecham o verão. Em outros dias, sentia a infinita inquietude do seu ser. Sentia como se estivesse sozinha, deitada em um barquinho que flutuava em águas verdes bem cristalinas. Quase podia ouvir o silêncio sussurrar as palavras que tanto quer dizer.

Eu me vejo na garota. Sinto o seu sufoco e partilho as palavras que não saem. A vontade do silêncio. A falta dos meus olhos me olharem com ternura. A fraqueza de não deixar o caos gritar.

sábado, 23 de julho de 2022

E agora?

Eu jurei nunca mais escrever algo que não fosse direcionado a mim. Eu jurei não amar. Jurei não ser feliz. Jurei sequer olhar para o tentar. 

Mas eu falhei. Eu falhei por diversas vezes. Eu sonhei, eu desejei, eu senti o gosto da boca dela encostando na minha. 

E foi fácil. Ela venceu minhas barreiras com maestria. Simplesmente chegou e colocou de lado qualquer coisa ruim. Foi fácil conversar. Foi fácil me levar pra perto. Foi fácil me fazer dela. Foi fácil me manter por perto quando o meu dilema é ir embora ao sinal de qualquer concorrência. 

Foi fácil me fazer querer. Eu a quero. Quero tudo com ela. Quero fazê-la minha. Quero que seus lábios sejam meus. Quero que seu coração bata mais forte na presença do meu. Quero que sua buceta seja minha.

A quero com tudo que tenho. A quero com tudo que ela quer ser minha.

Eu jurei não querer. Mas e agora?

sexta-feira, 16 de março de 2018

Última lembrança

Ela aparentava ser a fragilidade em pessoa. Emendou a retirada da vesícula e uma tuberculose. Estava em fase final de recuperação e seu rosto e seu corpo pareciam mais frágeis que nunca.
A voz recitava o cansaço evidenciado pelas olheiras após uma longa viagem de 8 horas. Pensou que encontraria abrigo. Encontrou uma casa castigada pela tempestade que ainda ventava no quintal.
O seu corpo gelado esperava encontrar o calor do abraço que sempre a aquecera. Encontrou no abraço que tanto esperava, o desprezo e um coração mais gelado que seus pés.
Mesmo com a tempestade que ventava no quintal, mesmo com a chuva que caía na casa bagunçada e sem telhado e mesmo com a nevasca que encontrou no lugar do coração quente, seu coração ainda esperava encontrar algo. Algo que valesse a pena as apostas que fizera consigo mesma.
Encontrou um par de olhos verdes sem brilho algum. Sem uma mísera faísca. Sem um pingo de emoção. E que bradavam em silêncio: você perdeu a aposta.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Sonho antigo

Do sonho antigo passando até o presente-passado, colorindo com você cada retrato tirado dos olhos, que brincavam de serem lentes fotográficas.
Do sonho antigo sem sentido, preto e branco e com apenas você colorida, a certeza já pairava no ar: ainda seria amor. Quando o presente-passado chegou, senti na pele a tua pele que senti sem tocar no sonho antigo. Já era amor.
Já era amor, e o era desde sempre. Desde quando ainda não sabia teu nome, desde cada bom dia, desde cada "estava com saudade de falar com você", desde cada madrugada no computador, desde cada olhar trocado à distância.
E foi felicidade. Foi felicidade desde a promessa de que nos encontraríamos, desde o primeiro abraço, desde o primeiro entrelaçar de mãos, desde o primeiro beijo. Foi felicidade também em cada lágrima cheia de até logo, em cada despedida.
Foi luz no fim do túnel. Teu sorriso feito um farol que guia os navios em alto mar, me levou à praia chamada você. Onde estava tudo o que eu precisava. Onde eu descobri tudo o que eu ainda não precisava. Onde com paz no coração, descobri o amor em meio ao caos de luz e proteção causado pela tempestade chamada você. 
Há tempos caminhei de volta rumo ao mar, arrumei meu barquinho e zarpei. Talvez estivesse louco e sem saber como cuidar de tamanho amor. Talvez estivesse embriagado com tanta proteção e carinho. Talvez estivesse perdido, acontece às vezes.
E no meio de tanto tempo passado, digo o que ainda é: é amor. É felicidade. É gratidão. É luz, não no fim do túnel, mas à frente.
E em cada retrato tirado dos olhos, que brincavam de serem lentes fotográficas e que foram coloridos com a cor dos teus olhos gordinhos e do teu sorriso imperfeitamente perfeito, o sentimento inexplicavelmente bom surge.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Eu passo os dias e as noites sonhando com coisas impossíveis. Minha mente cria situações e diálogos dignos de um roteiro de novela mexicana de sucesso. Se eu fosse roteirista, já teria escrito umas dez novelas sobre como abruptamente a sutileza do destino me põe de volta na rua do meu grande amor.
São só sonhos. Às vezes eu deixo que eles existam, o meu coração sente paz com toda essa fábula que minha mente cria. Outras vezes eu me ouço gritar em silêncio: CHEGA! 
Por tantas vezes eu quis voltar no tempo, e pra ser sincero, ainda quero. 
Eu monto e remonto a minha vida como se ela fosse um quebra-cabeça de milhares de peças com o desenho indefinido, e quando eu penso chegar perto de montar tudo e saber o que está estampado, descubro que uma peça sempre está faltando.
Talvez me falte eu mesmo. Talvez eu tenha me perdido enquanto escrevia sobre como perder a cabeça pode te fazer perder a vida e continuar vivendo.

Dizem que a mente pode ser treinada. Eu então coloquei meu coração como treinador, mas me esquecera que a dona dele é aquela que nunca mais estará aqui. Ela só existe nas minhas lembranças, e na sensível esperança de que algum dia os roteiros de novela mexicana se tornem realidade.